WINDER RODRIGUES PIRES
Resumo:
A cultura da cana-de-açúcar está presente no Brasil desde o início do processo da colonização portuguesa. As técnicas utilizadas pela atividade canavieira voltadas para produção do açúcar e posteriormente do álcool não tiveram como base uma preocupação com a preservação dos recursos naturais, sendo associadas, ao longo de sua história, a grandes prejuízos ambientais, como desmatamento, queimadas, perda da biodiversidade natural, contaminação hídrica e dos solos, entre outros. No entanto, com o crescimento da mobilização social e do Estado em torno da preservação dos recursos naturais e da qualidade ambiental a partir de meados do século XX, houve uma reformulação técnica por parte deste setor, tanto no campo como na indústria, com o intuito de diminuir seus passivos ambientais ao mesmo tempo em que aumentava sua escala de produção. A crescente demanda por combustíveis renováveis, originada com os acordos internacionais para diminuir as emissões de gases do efeito estufa, intensificou a expansão do setor sucroenergético nas áreas de Cerrados no Brasil. Devido às condições (configurações) climáticas, pedológicas e topográficas deste bioma-território serem adequadas ao cultivo da cana-de-açúcar, houve uma reconfiguração espacial e uma reestruturação socioambiental nos locais onde este plantio foi implantado ou intensificado. Na microrregião do Sudoeste de Goiás, estão em atividades dez usinas sucroenergéticas e uma em fase de implantação. Este trabalho tem como objetivo verificar a estruturação do setor nesta microrregião e as consequências ambientais que se estabeleceram. O trabalho procura estabelecer, inicialmente, um conjunto de informações sobre como o setor foi se transformando na perspectiva técnica, passando por diferentes fases (açucareiro, sucroalcooleiro, sucroenergético), até chegar aos dias atuais, quando incorpora no seu portfólio de “provedor do desenvolvimento sustentável”. Dentro desse itinerário, dá-se ênfase entre as relações das políticas ambientais, especialmente pós-Kyoto, e a expansão do setor. E dentro dessa expansão, procurou-se compreender como a instalação do setor sucroenergético na microrregião do Sudoeste de Goiás poderia oferecer subsídios empíricos, a partir de uma análise socioespacial, da articulação da dinâmica territorial e sua legitimação do discurso ambiental feito pelo setor. Para isso, utilizou-se como metodologia entrevistas semiestruturadas com os responsáveis da parte ambiental e operários das usinas; levantamento da legislação ambiental que abrange o setor; análise dos estudos e relatórios de impactos ambientais das usinas instaladas; e levantamento das autuações ambientais nos órgãos públicos. Verificou-se que o padrão tecnológico utilizado pelas novas usinas instaladas na microrregião Sudoeste de Goiás permitiu minimizar alguns passivos ambientais historicamente arraigados ao setor. No entanto, a intensificação do cultivo canavieiro na microrregião pode acarretar novos impactos, como a intensificação do uso da água para irrigação, a perda de área para outras culturas, compactação dos solos e a monocultura. Faz-se necessária, assim, uma normatização ambiental que abranja as situações específicas desse setor e que leve em consideração as situações vivenciadas pelos agentes locais, no intuito de preservar a qualidade ambiental.