JULIANA ABADIA DO PRADO SOARES
Resumo:
O cultivar a terra transformou o homem e as práticas de como este cultiva a terra; apropriando-se da natureza, produziu formas espaciais diferentes ao longo dos tempos. A organização da produção no rural tem sido marcada por uma diversificação que vai da especialização à pluralidade de atividades, da produção em grande empresa à produção em pequenas propriedades e posses. Essa diversidade envolvendo as formas e a organização da produção é analisada pelos estudiosos a partir de vários ângulos. As interpretações variam conforme as perspectivas teóricas, históricas e espaciais. Porém, mais do que as interpretações, a realidade é múltipla e requer sempre atualizações que contribuam para a compreensão da realidade. A pesquisa que se empreende aqui não tem a pretensão de polemizar com posições consolidadas sobre questões de natureza teórica, mesmo assumindo uma posição para a construção dessa análise. Nesse momento, pretende-se fazer uma reflexão sobre a possiblidade de compreender a organização da produção da agricultura familiar a partir da lógica da pluriatividade. De antemão, reconhece-se que existem outras possibilidades que enfrentam a temática de forma competente. O caminho teórico-metodológico apresenta-se como um instrumento de formação que, uma vez compreendido, possibilita pensar o real concreto. Nessa perspectiva, parte-se do entendimento que, de forma geral, no cenário atual a agricultura passa por uma reorganização, em que a agricultura empresarial, baseada especialmente em monoculturas que se voltam para o mercado mundial, e a produção familiar são responsáveis por abastecer o mercado interno. No processo de concentração fundiária o agricultor familiar tem perdido condições de produção e para continuar na terra busca algumas formas para sua manutenção, sendo que as práticas pluriativas aparecem como possibilidades. A questão norteadora dessa pesquisa foi: em que medida a pluriatividade contribui para a permanência do agricultor familiar no campo? O objetivo geral foi compreender qual o papel da pluriatividade na agricultura familiar, além de realizar a caracterização das atividades pluriativas no local pesquisado. A investigação empírica ocorreu nos Assentamentos Agrovila Rio Verdinho no município de Rio Verde-GO e Assentamento Nossa Senhora do Guadalupe no município de Jataí-GO, ambos localizados na Microrregião Sudoeste de Goiás. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e exploratória, pautada em levantamentos bibliográficos em literaturas nacionais e internacionais e na realização de pesquisas documentais através de órgãos relacionados à questão agrária e agrícola no Brasil. O levantamento dos dados empíricos ocorreu em três momentos: primeiro momento - pré-campo - com o intuito de perceber a realidade dos produtores estudados; segundo momento entrevista para traçar o perfil dos assentados e quais famílias podiam ser consideradas pluriativas; e finalmente uma nova entrevista com as famílias classificadas como pluriativas. Os resultados apresentados mostram que as atividades agrícolas, para-agrícolas e não agrícolas são desenvolvidas por várias famílias. Assim, mesmo identificando que no conjunto de atividades praticadas pelos produtores dos assentamentos estudados há uma complexidade maior do que se pode apreender pela pluriatividade, entretanto, essas práticas ocorrem e contribuem para a permanência dos produtores familiares.
